domingo, 30 de maio de 2010

Para refletir...

Helena Katz por Isabella Motta

“O corpo é o assunto da moda em todas as áreas de conhecimento. O discurso se trivializou. Atividades como essa, em que temos liberdade de falar sobre o tema, permite refletir sobre essa hemorragia inestancável de produção em todos os domínios. Somos bombardeados de informações todo o tempo e isso influencia a produção de conhecimento que vem depois. Precisamos inventar outro tipo de espaço de reflexão”, alertou a pesquisadora e crítica de dança, Helena Katz.

Devemos ter cuidado com os modismos que cercam os discursos sobre o corpo. “Nos estudos de biopolítica, outro assunto da moda, o corpo aparece como objeto biológico, apenas como uma carcaça, desligado do ‘eu’, é o corpo ‘vida nua’ (termo do autor Giorgio Agamben*) que, na verdade, não existe. Nosso corpo conta tudo sobre nós, ele registra todas as referências culturais que experimentamos durante a vida. O corpo ‘vida nua’ é interesse político, para facilitar o controle social. Não existe um corpo natural, desde embriões recebemos informações externas”, afirmou.

“Vivemos um momento de hiperconsumismo também no campo acadêmico. Ele foi importado da economia sem nenhuma adaptação. Termos e ideias nascem para se tornar obsoletos rapidamente”, afirmou. E exemplifica com um problema crônico observado na área de dança. “As leis de incentivo se baseiam nos critérios de hiperconsumismo. Os artistas se vêem obrigados a produzir sem parar e a qualidade artística fica comprometida. Neste contexto de produção regida por editais, os projetos acabam tendo um formato que exige uma aceitação. Os artistas não estão mais colocando suas questões ali. Como isso se refletirá nesse corpo? Para quem é feito esse trabalho? O mesmo acontece no mundo acadêmico. Precisamos inventar um novo caminho”.

A saída estaria exatamente no processo criativo e nas manifestações artísticas. “Como a arte pode ajudar a falar do corpo de outra forma? Arte tem papel libertador, ela deve lutar contra esse processo de obsolescência constante. As pessoas precisam se ouvir, identificar questões em coletivo. Enquanto procurarmos o caminho individualmente, não conseguiremos enxergar nada, não vamos perceber o que está faltando”, inquieta-se Helena.

*http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2792,1.shl

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